No post sobre frangos que produzi falei sobre o desenho de uma galinha com calças feita por um garoto do século XVIII em seu diário. Quando a equipe do museu onde ele estava guardado encontraram os desenhos foram elaboradas postagens no twitter para compartilhar o achado, logo diversas questões sobre o design da galinha de calças surgiram, como, por exemplo, o fato de que existisse um brasão de uma cidade holandesa idêntico ao desenho do garoto. Diante destas perguntas o museu elaborou um post discutindo o brasão, que na verdade se trata de um caso de armas falantes onde o desenho evoca o nome do local ou da pessoa que as usa como no exemplo da cidade holandesa, que possui o nome de Hensbroek, galinha de calças literalmente, mas cujo significado original era “áreas pantanosas de Hein” apesar do significado literal de broek ser calças enquanto Hein sendo um nome popular holandês. Apesar do nome que descreve o pantano da cidade passar um tanto despercebido, o ambiente influenciou bastante o design do brasão, os primeiros desenhos do escudo apresentavam uma galinha (hens) sobre uma colina, um local seguro das enchentes da cidade. Conforme os programas de drenagem iam sendo realizados e as cheias da cidade diminuíram de intensidade, o brasão foi sendo modificado até ao de uma galinha que podia usar suas calças (broek) sem as molhar. Os símbolos podem ser muito modificados pelo imaginário das pessoas e de uma sociedade, mas muitos também podem moldar e se enraizar na memória popular. Um exemplo disso é como os escudos se tornam produtos extremamente colecionáveis, como o sabonete Eucalol que possuía séries de desenhos colecionáveis em seus produtos, tendo uma série destinada aos escudos do Brasil. Os brasões do período imperial no Brasil buscaram se diferenciar dos de origem portuguesa, mostrando características da geografia e economia inerentemente brasileiras, e acompanharam outras áreas da cultura nos projetos do reinado de D. Pedro II quanto à criação e o enraizamento de sentimentos nacionalistas. Hoje os brasões tomaram um aspecto cívico, sendo usados, por exemplo, em corporações e prefeituras, diferente das antigas armas que vinham acompanhadas de títulos de nobreza e de seus rituais. Não somente a presença de personagens nacionais diferencia os escudos brasileiros, mas também a não preocupação com padrões e normas de sociedades heráldicas sobre o desenho destes, mesmo durante o império. Saber da história e dos brasões brasileiros não é somente uma curiosidade histórica, mas auxilia a pesquisa da história de um local e sociedade e de seus objetos, documentos, e imaginários. Modificações do desenho de brasões não são exceções como o caso da cidade de Hensbroek, também podem ocorrer em cidades como São Paulo que passam por ajustes dos padrões de estética várias vezes durante os anos. Como item de coleção e imaginário ou como ferramenta de pesquisa a heráldica estuda e produz símbolos comunicativos que, mesmo não sendo armas falantes com desenhos bastante literais, contam a história e tensões de uma sociedade e país. Posso não ter todos os conhecimentos das regras de heráldica, mas as fontes que tenho aqui sim. Apesar de ter alguns links para a wikipedia é ainda assim um bom site para chegar até fontes que nós não conhecemos ao final de cada artigo. Fontes:
https://www.heraldry-wiki.com/heraldrywiki/wiki/Eucalol https://www.heraldry-wiki.com/heraldrywiki/index.php?title=Hensbroek https://merl.reading.ac.uk/news-and-views/2018/10/chicken-wearing-trousers/ https://www.openculture.com/2018/10/museum-discovers-math-notebook-of-an-18th-century-english-farm-boy.html https://pt.wikipedia.org/wiki/Armas_falantes https://pt.wikipedia.org/wiki/Her%C3%A1ldica_brasileira
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AutorSobre mim só precisa saber que faço bordado, escrevo, leio e gosto de pescar. Sobre profissão e estudos não se fala na mesa de jantar, mas sobre essa questão curso conteúdos ligados à informação e ciências sociais aplicadas. ArquivoCategorias |